Revista Galwan 2020
D urante as eleições de 2018, o WhatsApp foi uma das principais pla- taformas para a disseminação das chamadas fake news. Os conteúdos de desinformação circularam não só em grupos de temática política, mas também em grupos pessoais como os de família, estudos e igreja. Um dos seus efeitos mais sentido após as elei- ções foi a hiperpolarização da sociedade, o que levou diversos pesquisadores a focarem seus estudos no aplicativo para compreenderem e mitigarem tais efeitos. Infelizmente, o WhatsApp ainda será um campo fértil para as fake news em 2020, porém será no Instagram onde no- vas e poderosas formas de propagação de de- sinformação tomarão forma e potencialmente afetarão as próximas eleições. Desde 2012, quando o Facebook comprou o Instagram, a rede social vem se expandin- do rapidamente. Atualmente, o Instagram tem mais de 1 bilhão de usuários ativos no mundo, e o Brasil ocupa a terceira posição em núme- ros de usuários, com mais de 72 milhões. Um dos motivos para a rápida expansão é o fato dos brasileiros estarem cansados da interface desordenada do Facebook e dos complicados controles de privacidade. O Instagram segue uma linha de tempo (timeline) mais simples e de fácil navegação, onde o usuário basicamente só precisa arrastar para cima ou para baixo, e dar dois toques para curtir uma foto. Um outro motivo para a popularização do aplicativo foi a introdução dos "Stories" em 2016 - inspirado na funcionalidade do Snapchat. O Instagram implementou um espaço onde o usuário pode compartilhar fotos e vídeos do seu dia a dia sem preocupação, já que sabe que são postagens que duram 24 horas. Os Stories mudaram a forma em que o usuá- rio se engaja com o Instagram. A plataforma, que originalmente era focada somente em con- teúdo visual, agora permite textos - além de facilitar o compartilhamento das postagens com outros usuários. Essa combinação, texto e compartilhamento, junto com a enorme base de usuários, fez com que o Instagram se parecesse mais com o Facebook, chamando assim a aten- ção daqueles que veem na plataforma um am- biente perfeito para propagandas e fake news. Muitos interpretam o Instagram como uma plataforma inofensiva, onde celebridades pos- tam seus cotidianos, influenciadores dão dicas de DAVID NEMER é professor titular na Universidade da Virginia, PhD em Antropologia da Tecnologia, mestre em Ciência da Computação e bacharel em Administração e Ciência da Computação. É autor do livro "Favela Digital: o outro lado da tecnologia". beleza e o conteúdo de comédia fica por conta dos perfis de "zoeira", o que leva o usuário a aceitar o conteúdo de uma forma mais fácil, já que a sua percepção é que os conteúdos são leves e inócuos. Assim, sem um engajamento mais crítico, os usuários acabam consumin- do um dos principais tipos de conteúdo com- partilhado no Instagram, que são os memes, fotos combinadas com textos que geralmente são engraçados ou irônicos e que facilmente viralizam. Os memes são um canal cada vez mais popular para desinformações e citações falsas. Esse conteúdo visual além de ser fácil e barato de produzir, dificulta a comprovação da veracidade da mensagem do que artigos de sites duvidosos. Os vídeos curtos do Instagram também se- rão instrumentais na propagação de desinfor- mação. Aliás, eles já são compartilhados por figuras políticas para propagar fake news. Por exemplo: em 2018 a então candidata Joi- ce Hasselmann compartilhou em sua conta um vídeo dizendo que um suposto hacker es- tava pronto para invadir o sistema de urnas eletrônicas para fraudar os votos e garantir a vitória presidencial do candidato do PT- o que nunca foi comprovado. Uma outra forma de vídeo que tem o potencial de ser um dos maiores perigos em relação a desinforma- ção é o deepfake. O deepfake é uma tec- nologia que usa inteligência artificial (IA) para criar vídeos falsos, mas realistas, de pessoas fazendo coisas que elas nunca fizeram na vida real. A téc- nica que permite fazer as mon- tagens de vídeo já ge- rou desde conteúdos pornográficos com celebridades até discursos fictícios de políticos influentes. O Instagram já é alvo de campanhas de de- sinformação. Segundo um relatório encomen- dado pelo Comitê de Inteligência do Senado Americano, a empresa russa Internet Resear- ch Agency (IRA) passou mais tempo em 2016 e 2017 engajando os seus esforços propagandis- tas no Instagram do que no Facebook e Twit- ter. O relatório também avalia que o Instagram provavelmente será o principal campo de ba- talha em uma base contínua. Um outro estu- do da Universidade de Nova York alerta que o Instagram será a plataforma de escolha para pessoas que desejam disseminar desinforma- ção baseada em memes. As consequências das fakes news no Insta- gram podem ser mitigadas se uma abordagem multifacetada for implementada, onde o judi- ciário, polícia, imprensa, centros educacionais e a própria plataforma possam trabalhar em conjunto, cada um em sua frente e função. Porém, é preciso agir prontamente e não dei- xar o que aconteceu nas eleições de 2018 volte a ocorrer em 2020. ARTIGO ARTIGO Instagram E FAKE NEWS NAS ELEIÇÕES R e v i s t a G a l w a n • 147 146 • R e v i s t a G a l w a n
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