Revista Galwan 2022

P lantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) são plantas com potencial ali- mentício e desenvolvimento espontâ- neo, não consumidas em larga escala ou utilizadas apenas em determinada região. Um exemplo de PANCs é a ora-pro-nóbis, uma planta muito conhecida por ser um alimento al- tamente nutritivo. Seu nome popular, ora-pro- -nóbis, tem a origem associada a orações dos padres. Conta-se que as pessoas colhiam esta erva em terrenos de igrejas, enquanto padres entoavam orações em latim “Orai por nós”. Com alto teor de proteínas, a ora-pro-nó- bis é um dos alimentos mais indicados para a dieta de vegetarianos, fun- cionando como substitu- ta da carne. É popularmen- te chamada de "carne dos po- bres", justamente, pelo alto teor das proteínas que são fundamentais para a saúde dos músculos, ajudam na composi- ção da pele, dos cabelos e são importantes para a imunidade. Segundo Fabiana Ruas, bióloga do Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Téc- nica e Extensão Rural (Incaper), a ora- -pro-nóbis é uma planta muito vigorosa e resistente à seca. “As flores são peque- nas e brancas e nos ramos apresenta fal- sos espinhos semelhantes aos da ro- seira. Os frutos são pequenas bagas espinhosas de cor amarela. A planta é originária das Américas ocorrendo espontaneamente dos EUA até o Brasil. É uma planta rústica e não tolera terrenos encharca- dos. Devido à sua rusticidade, a planta adap- ta-se a diversos tipos de solo, sendo pouco exigente em fertilidade”, explica. As folhas da ora-pro-nóbis são encontradas, principalmente, em algumas regiões de Minas Gerais onde é consumida de diversas formas, seja refogada, em sopas, no feijão ou em re- cheios de tortas e salgados. A ora-pro-nóbis é um dos tipos de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) que podem e devem fazer parte de uma alimenta- ção saudável. Conforme explica o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa, Pedro Arlindo Galvêas, dentre os “matos comestíveis”, há também hortaliças tradicionais da culiná- ria brasileira. “Incluem-se nessa lista a ma- jor-gomes ou cariru, no Norte e Nordeste; os carurus ou bredos, nas áreas rurais do Brasil todo; a capiçoba, no Centro-Oeste e Sudeste. SAÚDE Diversos estudos etnobotânicos apontam que essas PANCs são consumidas há séculos, e es- tudos laboratoriais reforçam que de fato são comestíveis e, muitas vezes, mais nutritivas do que as hortaliças consideradas convencionais”, explica Galvêas. Há ainda uma grande diversidade de plantas consideradas “daninhas”, mas que são comestí- veis, como a beldroega, a capiçoba, os carurus (amarantos), os carirus (talinum), as serralhas, as alfaces silvestres, o almeirão-roxo, a guas- ca (botão-de-ouro), o dente-de-leão, a laba- ça, a tanchagem, o mastruz, a rúcula silvestre (lepidium), o picão-preto, a buva, o trevo (aze- dinha) e a couvinha-cravo, os camapus (fisá- lis), o pepinículo e o melão-de-São-Caetano. “Elas ocorrem nas calçadas, quintais e hortas, mesmo que não sejam plantadas, porque cria- mos as condições perfeitas para seu desenvol- vimento e dispersão. A situação de desuso da maioria das PANC pelos segmentos da socie- dade acarreta em fragilidade com relação ao risco de perda desses materiais genéticos rico em nutrientes”, alerta o agrônomo. PRODUÇÃO NO CAMPO/ JARDIM DA ORA-PRO-NÓBIS: Preparo de solo São feitas covas rasas, ou sulcos, quando se faz o plantio para cerca viva. Plantio A propagação da planta é vegetativa, feita pelo enraizamento de estacas. O material provenien- te da região intermediária do caule, nem muito verde nem muito lenhoso, é o que apresenta melhor pegamento. As estacas devem ter de 15 a 20 cm de comprimento, dos quais a metade (parte basal) será enterrada no solo. Tratos culturais Em períodos de seca é necessário irrigar pelo menos uma vez por semana. A primeira poda, deve ser feita a 20-30 cm do solo, com 75 a 90 dias após o plantio e a planta estiver com cerca de 1,0 m de altu- ra. Deve-se buscar es- tabelecer um formato de “taça” para as plantas, dei- xando-se desenvolver somente os galhos bem orientados, volta- dos para cima, deixando duas ou três gemas viáveis para rebrota. Deve-se, portan- to, retirar os galhos baixeiros ou malformados (muito finos ou horizontais), sem deixar gemas viáveis, o que se faz podando-os bem na base, na inserção do galho principal. Produção emvasos O solo pode ser adquiro em casas de produ- tos agropecuários. Importante usar vasos no mínimo 10 litros, pois esta planta perdura por anos. O plantio é feito pelo enraizamento de estacas de caule com 15 a 20 cm, dos quais a metade (parte basal) será enterrada. A muda precisa ser regada diariamente, mas após estar plenamente enraizada, torna-se to- lerante à seca. Por se tratar de planta muito vigorosa, su- gere-se podá-la periodicamente no plantio em vasos. A orientação é fazer a primeira poda a 20 cm do solo quando a planta tiver cerca de 1,0 m de altura, lembrando que a poda já é uma colheita. Colheita e pós-colheita A colheita inicia-se com cerca de 75 dias após o plantio, junto com a poda de formação. As folhas devem apresentar de 7 a 15 cm de com- primento. Na colheita deve-se retirar a de has- tes (poda), efetuando-se a retirada das folhas à sombra. Recomenda-se o uso de luvas para evitar ferimentos nas mãos. A conservação pós-colheita das folhas da ora-pro-nóbis é relativamente boa, principal- mente se forem embaladas em sacos plásticos e colocadas na geladeira, o que amplia em, pelo menos, cinco dias seu período de conservação. Thaís Tomazelli Elas ocorrem nas calçadas, quintais e hortas e são indicadas até mesmo na substituição da carne PLANTAS ALIMENTÍCIAS Não Convencionais surpreendem pelo valor nutricional Pedro Arlindo Galvêas, Engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa SAÚDE R e v i s t a G a l w a n • 117 116 • R e v i s t a G a l w a n

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