Revista Galwan 2022
Esculpir na plaina uma prancha de surf ou stand up é chamado shapear e quem domina a técnica permite os adeptos a ‘andar sobre as águas’ A técnica de criar um equipamento que deu origem a alguns esportes que permitem literalmente andar sobre as águas com a menor interferência en- tre o corpo e o mar, rio ou lagoas denomina- -se shapear, ou seja, dar forma, esculpir uma prancha, seja ela para que fim for: surf, stand up, windsurf ou kitesurf. O Espírito Santo é re- ferência neste assunto, concentrando umgran- de número de shapers e com pranchas feitas aqui sendo comercializadas para todo canto do País e, também, exportadas mundo afora. Tudo começou pelo surf, claro. Foi o es- porte que primeiro usou as pranchas. Aliás, se perguntar a algum artesão dos blocos de po- liuretano se ele é shaper ou surfista, ele vai se apressar em dizer que antes de tudo ele é sur- fista e, depois, shaper. Resposta compreensível ao olhar para trás e verificar como toda esta história começou. Lembrando que existe uma rixa sobre onde surgiram essas pranchas e, consequentemen- te, o esporte que as popularizaram, figurando o Peru e a Polinésia Francesa no posto de pre- cursores das pranchas. No Peru, elas datam de 450 anos e eram usadas para pescar, permitindo uma maior aproximação com o ambiente marinho. Já na A ARTE DE SHAPEAR ARTE Polinésia, mais tarde Havaí, ao ser incorporada pelos Estados Unidos em 1900, elas já surgi- ram com o intuito de diversão, sendo usadas para descer as ondas, prática permitida ape- nas aos reis locais. Da Polinésia para a Califórnia foi um passo. As pranchas e a arte de shapear em fibra de vidro chegaram ao continente americano na década de 30 pelas mãos de Bob Simmons, e o uso depois do poliuretano e resina de vidro, usados na sequência, permitiram um grande avanço na tecnologia de fabricar pranchas, agregando mais leveza, menos atrito e maior desempenho, ao que os entendidos do assun- to chamam de pranchas de alta performance, ou seja, aquelas que fazem os surfistas voarem sobre as ondas emmanobras aéreas, droparem e entubarem com uma desenvoltura perfeita. NO BRASIL Da Califórnia para uma proliferação do es- porte foi outro pulo, assim como as ramifica- ções para outras modalidades. Os primeiros praticantes de surf no Brasil foram da cida- de de Santos (SP), na década de 30. Embora muitas publicações reconheçam Osmar Gon- çalves e Jua Haffens como os primeiros surfis- tas do Brasil, há pouco tempo, outro santista, Thomas Rittscher, deu uma entrevista à revista Trip reconhecendo que foi o primeiro a “andar em cima das ondas”, no Brasil, entre os anos de 1934 e 1936. Já Osmar data de 1938. Na cidade de Santos, contudo, existe um monumento com a imagem em tamanho real de Osmar ao lado de sua possível “máquina”, um long board feito por ele. Outro fator de popularização do shape e do surf foi a instalação de uma base america- na no Rio de Janeiro, no período da Segunda Guerra Mundial, permitindo que os brasileiros tivessem contato com os americanos que trou- xeram, com eles, várias práticas desportivas de praia, como o surf e o mergulho. Nos anos 50, as praias cariocas eram as mecas dos espor- tes de praia, incluindo o surf. Rose Frizzera ARTE Já nos anos 60, as primeiras pranchas em fibra de vidro foram feitas por Arduíno e Irecy Beltrão, da São Conrado Surfboard, empre- sa gerenciada pelo Coronel Parreiras, figura lendária no meio do surf carioca. Se ele capi- taneava a empresa, seus shapers eram Mário Bração e Mudinho e a primeira prancha em fi- bra de vidro, substituindo as de madeira, cha- madas “porta de igreja”, foi em 1965. Nos anos 70, contudo, nasceu a primeira geração do surf e do windsurf, quando esses esportes explodiram com nomes como Pepê, Bocão, Jorge Pritman, Cauli Rodrigues, Rico de Souza, Daniel Friedman e Lipe Dylong (pai do cantor Felipe Dylon). Lipe é shaper até hoje, radicado no Havaí e considerado uma lenda desde os anos 70. LipeDylong completou 50anos como surfis- ta e shaper em 2020. “Comecei a fazer pran- cha porque a minha quebrou e tive que con- sertar. Não tinha onde consertá-la ou dinhei- ro para comprar outra. Fazia com ralador de coco, ralador de queijo, lixa em cima dos recks de uma mesa de ping pong, na garagem de casa e com a ajuda de amigos”, disse Lipe, em um vídeo no Youtube que marca os 50 anos de sua história. Ele foi o primeiro surfista a ter 8 • R e v i s t a G a l w a n R e v i s t a G a l w a n • 9
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